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Meio século de dedicação à Justiça

Quem chega à 23ª Vara Cível, no Fórum Ruy Barbosa, e vê o escrivão Eloísio Francisco Santos (foto), 67 anos, no balcão, prestativo e solícito, atendendo advogados, fornecendo informação sobre processos da Semana Nacional de Conciliação, orientando as partes, empenhado em dar encaminhamento aos feitos da Meta 2 determinada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), pode perceber que a atividade dele no Poder Judiciário não é uma simples relação de trabalho.

É um caso de amor ao que faz. História que começou em 1957, quando Eloísio, com 15 anos, chegou a um dos cartórios particulares de distribuição localizados no Fórum, um bilhete escrito à mão, com caneta-tinteiro, que trazia um pedido de emprego. O major Cosme de Farias assinava o pedaço de papel.

"Era um famoso rábula, conhecido por dar orientações às pessoas mais necessitadas. Foi através de um pedido dele que comecei como uma espécie de office boy no cartório, aqui no Fórum. De lá pra cá, fui galgando degraus, fiz concurso e cheguei a este cargo de escrivão, do qual muito me orgulho", conta Eloísio, arrodeado por processos com a etiqueta alaranjada da Meta 2, na mesa próxima a uma grande janela branca de onde se avista a praça D. Pedro II, em Nazaré.

O escrivão faz questão de ressaltar que as mais de cinco décadas trabalhando no Poder Judiciário são ininterruptas: "Só na 2ª Vara Cível, segundo lugar onde trabalhei, passei 38 anos".

Apesar do tempo, a memória não falha. Está viva e guarda com carinho os nomes dos juízes com os quais atuou e que chegaram a desembargadores: Domingos Mármore Neto, Jaime Bulhões e Dibon White, entre outros. Manuseando os processos sobre a mesa, ao mesmo tempo em orienta a um dos 13 servidores da Vara, fala, com leveza, dos muitos processos que passaram por suas mãos e que tinham a assinatura do famoso jurista Orlando Gomes.

Lembra também quando, há 35 anos, atuando como oficial de Justiça, subiu a bordo de uma embarcação na Capitania dos Portos para realizar o arresto de um navio de bandeira argentina, de nome Missiones, em águas baianas. E, com a memória afiada, fala da penhora de 150 ônibus que fez na cidade, com o apoio de 150 policiais.

Para chegar ao Fórum, diariamente, vai em um automóvel modelo 1997, "bem conservado", mas no início, idos dos 1960, pegava o bonde na Baixa de Quintas. Nas mãos levava sempre a máquina de escrever Olivetti que ainda hoje mantém na unidade onde trabalha, mas sem uso. Enquanto fala, acena para quem chega ao balcão. "Eles pedem para me procurar porque busco solucionar suas demandas prontamente", afirma.

A 23ª Vara Cível já programa um mutirão, além daquele já previsto pelo CNJ para o final deste ano e vai contar com a assídua colaboração de Eloísio que, nas palavras do juiz titular da unidade, Eduardo Augusto Viana, "é um patrimônio moral do Poder Judiciário da Bahia, referência de dedicação e abnegação".

"Que venham as próximas semanas de conciliação e mutirões. Sou um servidor público e estou aqui para atender as demandas do que precisam da Justiça", arremata o escrivão, um sorriso no rosto e a entonação de quem está só começando.