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Editorial: Mais um escândalo

Fortaleza (CE), 01/12/2009 - O editorial "Mais um escândalo" foi publicado na edição de hoje (01) do jornal Diário do Nordeste (CE):

A "práxis" política brasileira é marcada por curtos períodos de estabilidade institucional e sucessivos episódios de denúncias sobre irregularidades, em que a motivação maior se volta para supostos atos de corrupção. Executivo e Legislativo estão, quase sempre, no olho do furacão, como decorrência do questionamento de condutas arroladas como questionáveis, ora envolvendo a gestão pública, ora relacionados com os esquemas de financiamento das campanhas eleitorais.

Desta vez, o centro das denúncias é o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda; o vice, Paulo Octávio; quatro secretários e seis deputados distritais aliados ao governo. Como nos episódios anteriores, o responsável pelo escândalo é um dos próprios envolvidos que aplica métodos sofisticados de espionagem eletrônica. Os fatos gravados, filmados e editados - embora sob a proteção do segredo de Justiça -, deixam pouca dúvida e foram exaustivamente explorados no fim de semana, gerando uma crise de grandes proporções.

Esse "mensalão candango", materializado na distribuição, entre os políticos, de recursos originários de supostos contratos de obras públicas, teria origem em 2006, quando das eleições do governador do Distrito Federal. Nele estaria comprometido, também, o vice-governador Paulo Octávio, um bem-sucedido empresário da construção civil e da rede hoteleira de Brasília.

O denunciante, o então secretário de Relações Institucionais, acusado em 23 processos, apelou para a delação premiada, como parte das oitivas constantes do inquérito 650, em tramitação no Superior Tribunal de Justiça, para apuração dos atos de corrupção atribuídos ao governador do Distrito Federal e sua equipe. As denúncias visualizadas chocaram o País pela contundência das irregularidades expostas.

A falta de ética na política produz reações distintas nos grupos diversificados; então, a defesa perde espaço para qualquer justificativa. Dizer que o dinheiro recebido era para comprar panetones e distribuir entre a população carente parece uma explicação frágil ou pueril. Neste episódio do governo do Distrito Federal, pelas cenas explícitas de partilha do dinheiro de origem duvidosa, a direção do Partido dos Democratas prepara a expulsão do governador de seus quadros.

A OAB Nacional, pela relevância do assunto, reunirá seu colegiado para examinar a hipótese do "impeachment" dos governantes. Outros partidos políticos estão seguindo o mesmo caminho em relação aos parlamentares distritais. O episódio produziu um efeito imediato: fragilizou a base partidária até então respaldando o Executivo. A quebra do decoro parlamentar será o argumento para essa ação.

Refrescando a memória do eleitorado: José Roberto Arruda foi o senador envolvido, em 2001, na adulteração do painel do Senado Federal, quando da cassação do ex-senador Luiz EstEvão. Renunciou para não ser cassado. Em 2002, elegeu-se deputado federal (PFL) com a maior votação do Distrito Federal e, em 2006, governador (DEM). O presente episódio de caixa dois não é diferente do mensalão mineiro (PSDB), nem da partilha das siglas da base aliada do governo, em 2005.