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Artigo: Vitória da Coragem

Curitiba (PR), 22/11/2010 - O artigo "Vitória da Coragem" é de autoria do presidente da Seccional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) do Paraná, José Lucio Glomb, e foi publicado no jornal Gazeta do Povo (PR):

"Após a satisfação de saber que a Gazeta do Povo e seus jornalistas, com a série de reportagens Diários Secretos, venceram o Prêmio Esso de Jornalismo, antecedido dias antes pelo Prêmio Embratel/Tim Lopes, em feitos inéditos para o Paraná, ocorre-nos analisar que lições poderemos tirar destas premiações de abrangência nacional e internacional.

Em primeiro lugar, louvemos a coragem e o desprendimento do jornal e dos autores das matérias. Jamais algum órgão de imprensa sediado no Paraná havia demonstrado tamanha competência no sentido de revelar a verdade sobre o que ocorria na Assembléia Legislativa. Mesmo que os fatos fossem comentados à boca pequena, ninguém havia tido a ousadia de vir a público comprovar os problemas existentes.

Sabemos que esta é, enfim, a essência do jornalismo: mostrar os fatos como são, sem adjetivos e sem temor. No entanto, a vida nos ensina o quanto isso é difícil, principalmente em um país como o nosso, acostumado a ver os donos do poder posando, também, de donos da verdade.

Assim é que a primeira lição a ser aprendida é a de que vale a pena assumir posições corajosas quando a verdade está do nosso lado.

A segunda boa lição está no exercício de cidadania que as reportagens manifestam. Aos poucos estamos aprendendo a ser cidadãos, a fazer valer nossos direitos, bem inalienável de todos os que cumprem seus deveres para com a sociedade.

Não podemos esquecer também que as reportagens traduzem a competência, a aplicação e a determinação do jornal e de seus profissionais. Tivesse sido o material mal apurado, sem a efetiva veracidade que, ao ser publicado, salta aos olhos, a série não teria alcançado a repercussão que obteve.

É importante destacar que o Prêmio Esso foi outorgado à Gazeta do Povo no mesmo dia em que a Ordem dos Advogados do Brasil comemorou seus 80 anos de existência. Durante esse tempo, a OAB não deixou de estar presente em todas as lutas que se mostraram necessárias quando esteve em risco da liberdade de expressão. Sua história possui importância tal que tem sido a referência maior neste tema. Desde quando jornais eram fechados e intelectuais presos, a OAB pronunciava-se com severidade, de tal forma que nada foi capaz de deter a marcha em direção à democracia e ao pleno exercício da liberdade de expressão.

Afinal, como diz Millor Fernandes, livre pensar é só pensar. Portanto, trata-se de reprimir o irreprimível.

Ainda assim, estamos assistindo, em diversas partes do mundo, a procedimentos destinados a punir quem ousa levantar a voz contra o poder dominante.

Na China, o Prêmio Nobel da Paz, Liu Xiaobo, está preso por crime de consciência. No Irã, a liberdade de expressão é tratada a pedradas. Em Cuba, presos políticos libertados na esteira das greves de fome de alguns mártires, são obrigados ao exílio. Sem falarmos do absolutismo do regime venezuelano ou da perseguição do governo argentino contra grupos jornalísticos.

Enfim, quando se trata de mostrar força, dentre todas as vítimas o direito à divergência é sempre a primeira delas.

Pelo talento dos jornalistas Gabriel Tabatcheik, James Alberti, Kátia Brembatti e Carlos Kohlbach, e pelo compromisso do jornal em respeitar seu leitor, oferecendo-lhe os fatos tais quais eles são, restou demonstrado que não terão vida fácil os que, eventualmente, pensarem em turvar o livre direito dos cidadãos se expressarem.

Esta talvez seja a última lição a ser tirada dos prêmios auferidos. Uma lição para o futuro dos meios de comunicação, dos jornalistas e, principalmente, dos brasileiros, que desta forma podem encontrar, no caminho da cidadania, o meio mais efetivo de defender a sociedade justa e decente que todos almejamos."